Bia Lessa volta à obra-prima de Guimarães Rosa, após 10 anos,
conduzindo o público por entre as veredas recriadas no Teatro Guararapes.
Foto: Divulgação
“Contar é muito, muito
dificultoso”
“Carece de ter
coragem...”
Como transpor ao palco uma leitura da maior obra
literária brasileira do século XX? Mais que uma pergunta, esta foi a missão da
diretora teatral Bia Lessa ao decidir coisificar os universos contidos em
Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e as inúmeras possibilidades de
análise do romance. A resposta será apresentada ao público de Recife, no
próximo dia 02 de Junho de 2018, no Teatro Guararapes. O espetáculo, vencedor
do Prêmio APCA 2017 na categoria Melhor Direção (Bia Lessa), do Prêmio Shell
nas categorias Melhor Direção (Bia Lessa) e Melhor Ator (Caio Blat) e do Prêmio
Bravo! 2018 na categoria Melhor Espetáculo de Teatro (Grande Sertão:
Veredas), chega a Recife após temporada de casa lotada, em São Paulo e no Rio
de Janeiro.
No elenco estão Caio Blat, Luíza Lemmertz, Luísa Arraes, Leonardo
Miggiorin, José Maria Rodrigues, Balbino de Paula, Daniel Passi, Elias de
Castro, Lucas Oranmian e Clara Lessa. Para dar vida ao mítico sertão, Bia
reuniu nomes como Egberto Gismonti (música), Camila Toledo (concepção espacial,
com a colaboração de Paulo Mendes da Rocha),
Sylvie Leblanc (figurino) e Fernando Mello da Costa
(adereços).
“Contar seguido,
alinhavado, só mesmo sendo as
coisas de rasa importância.”
Bia conhece profundamente o Sertão de Guimarães
Rosa. Ela levou o público para dentro da obra na inauguração do Museu da Língua
Portuguesa (SP), em 2006. A exposição foi aclamada por onde passou. Agora, ela
convida a plateia a um mergulho fundo na epopeia narrada pelo jagunço Riobaldo
(Caio Blat), que atravessa o sertão para combater seu maior inimigo, Hermógenes,Leon Góes, fazer um pacto com o diabo e descobrir seu amor por Diadorim (Luíza
Lemmertz).Trata-se de uma instalação, visitada e experimentada pelo público durante o
dia no Teatro Guararapes, e o espetáculo, encenado na mesma estrutura, em 2
horas e 20 minutos de encenação ininterruptas, com o elenco em cena
permanentemente, em que o público experimenta a dissolução das fronteiras entre
início e fim do espetáculo; entre teatro, cinema e artes plásticas; entre
literatura e encenação.
“O teatro para mim é sagrado. Me dedico a
ele de tempos em tempos, não me sinto com capacidade de realizar espetáculos um
após o outro. Me deparei com o Grande Sertão e ele se apoderou de mim
mais uma vez. Quando montei a exposição, algumas questões se apresentavam: a
principal delas era como utilizar imagens sem que o significado do Sertão de
Guimarães ficasse reduzido a um único lugar. A opção na época foi trabalhar
apenas com palavras. No teatro, essa questão volta a se impor: 'o sertão está
dentro da gente'. Nosso caminho foi realizar um trabalho onde homens, animais e
vegetais estabelecessem uma relação de diálogo sem supremacia entre eles. Não
estamos exatamente no sertão, mas em um espaço “ecológico” e metafísico onde
tudo cabe. Um espaço, uma imagem, que nos possibilita a experiência proposta
pelo romance, sem obviamente realizar o romance tal como é – fidelidade
absoluta (todas as palavras ditas são de Guimarães Rosa), mas liberdade
infinita, visto que é apenas uma das leituras possíveis da riquíssima obra de
Guimarães. Escolhemos não utilizar grandes efeitos ou recursos, a não ser a
valorização do universo sonoro dos espaços propostos pelo romance, apenas os
próprios atores”, pontua a diretora.
“O sertão está em toda parte”
A grande estrutura tubular concebida lembra um
claustro, uma gaiola. Instalada na rotunda no Teatro Guararapes,também é, ao mesmo tempo, cenário de violentas batalhas e de reflexões profundas.
Como instalação, poderá ser visitada durante o dia. 250 bonecos de
feltro com tamanho humano, criados pelo aderecista Fernando Mello da Costa, compõem uma imagem
permanente: a cena da morte de Diadorim como um presépio. A trilha sonora
completa a atmosfera do Grande Sertão: Veredas, composta por três
camadas: os ruídos e sons ambientes, a música composta por Egberto Gismonti e a
trilha sonora que representa nossa memória emotiva, com músicas que fazem parte
de nosso imaginário. Os figurinos são uma leitura do sertão, sem regionalizá-lo
– são personagens do mundo.
Em um trabalho tão artesanal, marca da diretora (que passou mais de
600 horas com o elenco, em ensaios diários por 92 dias), e de grande esforço
físico (a preparação corporal foi um dos aspectos indissociáveis do trabalho de
direção, com aulas de corpo por Amalia Lima diariamente durante os 4 meses de
ensaio), a tecnologia foi fundamental para guiar o público em tantas
veredas. Fones de ouvido permitirão escutar separadamente a trilha sonora, as
vozes dos atores, os efeitos sonoros e sons ambientes, levando-o a um
nível inédito de interação com a dimensão sonora do espetáculo.
“Essas são as horas da gente. As outras, de todo tempo, são as horas de todos”
SINOPSE
Em montagem inédita
no Teatro Guararapes,
Bia Lessa propõe a um só
tempo uma peça de teatro e uma instalação em sua
adaptação do livro Grande Sertão: Veredas –
matriz do moderno romance brasileiro e obra-prima de João Guimarães
Rosa. A peça traz para o palco a saga do jagunço Ribaldo que atravessa o
sertão para combater seu maior inimigo, Hermógenes,
fazer o pacto com o diabo e viver
seu amor por Diadorim. O cenário-instalação
estará aberto à visitação
do público.
BIA LESSA
Bia Lessa é uma artista multifacetada, cineasta, diretora de teatro e
ópera, exposições, ganhadora de vários prêmios. Suas obras são exibidas em
vários países, como Alemanha, França e EUA. Criadora do Pavilhão Brasileiro na
Expo 2000 em Hannover, Mostra Redescobrimento na Bienal SP, Reabertura do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro com a ópera Il Trovattore, Pavilhão
Humanidades 2012 (Rio + 20), reinauguração dos painéis Guerra e Paz de Candido
Portinari na ONU em NY. No cinema, dirigiu os filmes CREDE-MI mostrado em festivais
internacionais (Berlim, Biarritz, Nova Iorque, Jerusalem, Brisbane, Minsk,
entre outros).
POR SILVIANO
SANTIAGO
Para Bia Lessa, só o espetáculo teatral pode expandir a forma inovadora da
literatura. Ela não adaptou duas obras clássicas do romance ocidental; levou ao
palco os romances Orlando, de Virginia Woolf, e O homem sem qualidades, de
Robert Musil, expandindo-os. E agora, quando a nação perde o norte da cidadania
e esfarela a vontade dos brasileiros, Bia monta uma escultura na área de convivência
do Sesc Consolação. No seu interior, encena o monstruoso e genial Grande
sertão: Veredas, do nosso Guimarães Rosa.
Durante o dia, a escultura do Grande sertão: Veredas repousa como se fosse
livro fechado, a espicaçar a curiosidade dos visitantes. À noite, a escultura
expande o livro aberto. O leitor silencioso e introspectivo se metamorfoseia em
espectador, parcela de um coletivo atento e participante, que se renova.
A gongórica e letal escrita de Rosa ganha o corpo dos atores. Empresta-lhes
ação e fala. E a trama romanesca se desenvolve diabolicamente, com movimentos
desordenados, afetuosos e anárquicos, qual máquina escultural assinada por Jean
Tinguely, um dos fundadores do Novo Realismo. Novo Realismo igual a − diz o
famoso manifesto − novas percepções do Real.
Grande Sertão: Veredas se expande como espetáculo teatral que libera – qual
alegoria rigorosa da nossa contemporaneidade − o modo como os movimentos
desenvolvimentistas sem preocupação social e humana não recobrem a nação como
um todo. Pelo contrário. O esforço positivo da modernização é localizado,
centrado e privilegia. Nas margens, cria enclaves de párias – bairros
miseráveis, favelas, prisões, manicômios, etc. − onde violentas forças
antagônicas se defrontam e se afirmam pela ferocidade da sobrevivência a
qualquer custo, acirrando a irascibilidade do controle e do mando. Viver é
perigoso.
Extraordinário em Guimarães Rosa é que, no mais profundo da vida humana
miserável e autodestrutiva, na morte, há lugar para o afeto e o amor. Ao compasso
de espera, Riobaldo e Diadorim dançam novos e felizes tempos. Piscam a alegria
de viver, como vagalumes que a mata libera à noite.
Silviano Santiago
FICHA TÉCNICA
Concepção, Direção Geral, Adaptação
e Desenho de Luz – Bia Lessa
Elenco – Balbino de Paula, Caio Blat, Daniel Passi, Elias de Castro, José Maria Rodrigues, Leonardo
Miggiorin, Lucas Oranmian, Luisa Arraes, Luiza Lemmertz, Clara Lessa.
Concepção Espacial – Camila Toledo, com colaboração de
Paulo Mendes da Rocha
Música – Egberto Gismonti
Colaboração – Dany Roland
Desenho de Som – Fernando Henna e Daniel Turini
Adereços – Fernando Mello Da
Costa
Figurino – Sylvie Leblanc
Desenho de Luz – Binho Schaefer
Projeto de Audio – Marcio Pilot
Diretor Assistente: Bruno Siniscalchi
Assistente de Direção: Amália Lima
Direção Executiva: Maria Duarte
Produtor Executivo: Arlindo Hartz
Colaboração – Flora Sussekind, Marília Rothier, Silviano Santiago, Ana Luiza
Martins Costa, Roberto Machado
Idealização e Realização:
2+3 Produções Artísticas Ltda
Apoio Institucional : Banco do
Brasil | Globosat
Apoio: BMA Advogados | Instituto-E
| Om Art
Agradecimento especial à viúva do Autor, a
quem a obra foi dedicada, Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, à Nonada Cultural e a
Tess Advogados.
© Nonada Cultural Ltda.
SERVIÇO
GRANDE SERTÃO: VEREDAS
DATA: 02 de Junho de 2018.
LOCAL: Teatro Guararapes
Informações: (81)3182-8020
Duração: 140 minutos
Classificação: 18 anos
Ingressos: vendas a partir de 2 de maio
de 2018.
PALCO
200 ingressos por ordem de chegada R$200,00(com serviço de headphone, sem
necessidade de meia entrada)
Platéia- AA até BB R$160, (inteira) e R$R$80, (meia entrada)
Platéia BC em diante R$140,(inteira e R$70, (meia entrada)
Balcão R$100, (inteira) e R$50, (meia entrada)
Regras:
Regras de meia-entrada: estudantes, idosos, menores de 21 anos, pessoas com
deficiência, professores e profissionais da rede pública municipal de ensino.